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NOVAS FORMAS DO BRINCAR: A INFLUÊNCIA TECNOLÓGICA

O conceito de infância é uma construção histórica e social, que já foi muito modificada ao longo dos anos. As crianças da atualidade são expostas a tecnologia desde muito cedo, sendo assim, equipamentos eletrônicos assumem o lugar dos brinquedos, constituindo uma nova geração.

A criança se constitui como sujeito através da relação com outro sujeito, tendo em vista que a interação da criança com o ambiente tem uma importante colaboração no seu desenvolvimento emocional. Aliado a isso, o brincar tem um papel significativo na função constitutiva. Para isso, a relação com o Outro torna-se essencial, dado que as brincadeiras e as relações proporcionam à criança e ao bebê uma ligação com o mundo (Santos & Barros, 2018). De acordo com Freud (1908) é através do brincar que se faz possível a existência de um mundo fantasioso de extrema importância para a criança, pois é gerador de emoção e criação de subjetividade.

Cairoli (2010) lembra do estágio do espelho, cuja constituição do Eu acontece pela via da imagem. A criança necessita do olhar do outro (naquele momento o olhar da função materna), para lhe assegurar que a imagem refletida no espelho é sua.

A criança em interação com esta nova forma de brincar aparenta ser menos ativa e mais passiva. Esta passividade diante das telas acaba colocando a criança no papel de espectadora e não de autora. Twenge e Campbell (2018), realizaram um estudo com crianças de 2 a 17 anos sobre o tempo de uso gasto com dispositivos eletrônicos, televisão e vídeo game. Eles constataram que as crianças passam em média duas horas e quarenta minutos nestes meios. Levando em conta o conceito de bem-estar psicológico por Twenge e Campbell (2018), se refere a estabilidade emocional, relações interpessoais positivas, autocontrole e indicadores de crescimento, bem-estar prejudicado como transtornos de humor como ansiedade, depressão, entre outros. O resultado da pesquisa aponta que após uma hora por dia, o aumento do tempo com o uso de tecnologias estava associado geralmente ao bem-estar psicológico progressivamente menores. Os usuários considerados de alta frequências de uso, sete horas ou mais, apresentavam o dobrodo risco para baixo bem-estar em relação os usuários de baixa frequência, uma hora por dia ou menos. Segundo

Jerusalinsky (2014), o olhar da criança para a tela portátil em muitos casos atua como uma "chupeta eletrônica" suspendendo o olhar do bebê para o contexto em que está inserido. Enquanto a criança está voltada para as telas, além de manter-se mais silenciosa, menos atenção demanda para seus pais ou cuidadores que consequentemente acabam se ausentando com mais frequência da rotina e das “brincadeiras” das crianças. Mendes (2015, p.141) afirma que o Outro se faz dispensável quando o brincar da criança é mediado pela tecnologia, pois com os aparelhos, a criança sente que não precisa, necessariamente, interagir com alguém para brincar e se divertir. Nestas circunstâncias o brincar livre deixa de existir, levando também a inexistência da dimensão simbólica. Pode-se então inferir que o brincar tecnológico, em sua maioria, não dispõe de recursos necessários para o desenvolvimento infantil, como capacidade de imaginação, fantasia, criatividade e contato com o outro; recursos fundamentais para que a criança possa suportar seus conflitos internos, assim como, buscar satisfações simbólicas com o mundo externo.

Foi possível verificar que a tecnologia tende a provocar efeitos negativos quando utilizada de forma excessiva, entretanto, nada mais é que uma manifestação de um sintoma. Um sintoma de falta/ausência. Mendes (2015) afirma que os smartphones não são, de fato, geradores de sintomas, mas sim uma via de expressão deste. Pode-se aferir que uso de forma exagerada dos eletrônicos pelas crianças pode ser entendido como uma falta e não um excesso. A tecnologia entra para cumprir um lugar de algo faltante, de um espaço vazio, porém, está ali para ser ocupado (Santos & Barros, 2018).

No que diz respeito ao olhar do Outro, Winnicott (1971/1975, p. 155) aponta que quando o bebê olha pro rosto da mãe, normalmente, o que ele vê é ele mesmo. Quando os bebês e as crianças não recebem de volta este olhar, durante muito tempo, eles olham e não vêem a si mesmos o que pode causar grandes danos ao desenvolvimento. A capacidade de criação é enfraquecida "e, de uma ou de outra maneira, procuram outros meios de obter algo de si mesmos de volta, a partir do ambiente”

Artigo de Vanessa Azeredo Gavioli

Psicóloga

 

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